quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Missa de Natal em Jerusalém

A humanidade de Deus que se fez pobre e frágil: Santa Missa do dia de Natal na Igreja paroquial de S. Salvador

Jerusalém, Igreja paroquial de S. Salvador, 25 de dezembro de 2011

Nesta manhã foi celebrada na Igreja paroquial de S. Salvador a Santa Missa do dia de Natal, presidida por Fr. Noel Muscat, Discreto da Terra Santa e concelebrada, dentre outros, por Fr. Artemio Vitores, Vigário Custodial. Participaram do evento vários membros da comunidade franciscana de Jerusalém, pequenos grupos de religiosas pertencentes a várias congregações, presentes na Terra Santa, amigos e colaboradores da Custódia e alguns cristãos locais de língua árabe. 

Na homilia, Fr. Muscat destacou o paradoxo entre a misteriosa escolha de um Deus, “que se faz frágil, pobre e afetuoso como o menino recém nascido, que não pode viver sem o leite materno e a ternura de um abraço”, com a dificuldade e a resistência que muitos de nós tantas vezes mostramos em acolher este Deus, porque geralmente “queremos ser acolhidos por potentes, fortes e grandes, não pelos pobres que vivem à margem do caminho”. Nos sentimos temerosos diante da insegurança “de um Deus que se faz carne, de uma Palavra que ressoa no silêncio da noite escura da fé à procura de luz e de sentido”. É como afirma o Prólogo do Evangelho de São João: “A luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam. [...] Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1,5.11). Ou este é o caminho, que no Santo Natal, Deus escolheu para ser homem, para “fazer-se um de nós”. Através deste gesto divino de grande ternura a humanidade de cada ser humano, com suas falhas, suas misérias e suas fragilidades, para ser acolhido e sublimado por Deus na eterna graça de Sua perfeita vida.  

Cada ser humano, portanto, deve ser visto e compreendido na sua semelhança com o Verbo encarnado, como “rasto do Infinito”, como nos ensina Emmanuel Levinas, passagem através da qual Deus nos olha face a face em seu encontro e chama cada um de nós para a responsabilidade em relação aos irmãos. Particularmente, o rosto do outro, em sua expressividade, nudez, essencialidade, se mostra como “ideia do nosso Infinito”. Escreve Levinas: “Colocar o transcendente como estrangeiro e pobre, significa impedir a relação metafísica com Deus de atuar na ignorância dos homens e das coisas. A dimensão do divino abre-se a partir da face humana. A relação com o Transcendente [...] é uma relação social. Somente o Transcendente, infinitamente Outro, se requer e se faz convite a nós. A proximidade do Outro, a proximidade com o próximo, é em seu próprio ser um momento inelutável da revelação, de uma presença absoluta (isto é, livre que qualquer relação) que se possa exprimir. A sua mesma epifania consiste no requerer-se através de sua miséria no vulto do Estrangeiro, da viúva e do órfão”. Aqui, o Santo Natal nos mostra a plenitude de seu valor, que conduz a recuperar o sentido e o desejo da relação com Deus na sua essencialidade, que ao mesmo tempo faz desabrochar a essência das relações sociais e ilumina a aspiração humana do bem viver.

No final da celebração, os participantes saudaram-se com os melhores desejos de Santo Natal e muitos fizeram um breve momento de parada diante do Presépio, que a cada ano é ornamentado em modo original no fundo da nave esquerda, a poucos metros da porta principal da Igreja.

Texto: Caterina Foppa Pedretti
Foto: Marco Gavasso
Trad.: Fr. Ivo Müller, OFM
Fonte: http://it.custodia.org/