quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Missa de Natal em Jerusalém

A humanidade de Deus que se fez pobre e frágil: Santa Missa do dia de Natal na Igreja paroquial de S. Salvador

Jerusalém, Igreja paroquial de S. Salvador, 25 de dezembro de 2011

Nesta manhã foi celebrada na Igreja paroquial de S. Salvador a Santa Missa do dia de Natal, presidida por Fr. Noel Muscat, Discreto da Terra Santa e concelebrada, dentre outros, por Fr. Artemio Vitores, Vigário Custodial. Participaram do evento vários membros da comunidade franciscana de Jerusalém, pequenos grupos de religiosas pertencentes a várias congregações, presentes na Terra Santa, amigos e colaboradores da Custódia e alguns cristãos locais de língua árabe. 

Na homilia, Fr. Muscat destacou o paradoxo entre a misteriosa escolha de um Deus, “que se faz frágil, pobre e afetuoso como o menino recém nascido, que não pode viver sem o leite materno e a ternura de um abraço”, com a dificuldade e a resistência que muitos de nós tantas vezes mostramos em acolher este Deus, porque geralmente “queremos ser acolhidos por potentes, fortes e grandes, não pelos pobres que vivem à margem do caminho”. Nos sentimos temerosos diante da insegurança “de um Deus que se faz carne, de uma Palavra que ressoa no silêncio da noite escura da fé à procura de luz e de sentido”. É como afirma o Prólogo do Evangelho de São João: “A luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam. [...] Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1,5.11). Ou este é o caminho, que no Santo Natal, Deus escolheu para ser homem, para “fazer-se um de nós”. Através deste gesto divino de grande ternura a humanidade de cada ser humano, com suas falhas, suas misérias e suas fragilidades, para ser acolhido e sublimado por Deus na eterna graça de Sua perfeita vida.  

Cada ser humano, portanto, deve ser visto e compreendido na sua semelhança com o Verbo encarnado, como “rasto do Infinito”, como nos ensina Emmanuel Levinas, passagem através da qual Deus nos olha face a face em seu encontro e chama cada um de nós para a responsabilidade em relação aos irmãos. Particularmente, o rosto do outro, em sua expressividade, nudez, essencialidade, se mostra como “ideia do nosso Infinito”. Escreve Levinas: “Colocar o transcendente como estrangeiro e pobre, significa impedir a relação metafísica com Deus de atuar na ignorância dos homens e das coisas. A dimensão do divino abre-se a partir da face humana. A relação com o Transcendente [...] é uma relação social. Somente o Transcendente, infinitamente Outro, se requer e se faz convite a nós. A proximidade do Outro, a proximidade com o próximo, é em seu próprio ser um momento inelutável da revelação, de uma presença absoluta (isto é, livre que qualquer relação) que se possa exprimir. A sua mesma epifania consiste no requerer-se através de sua miséria no vulto do Estrangeiro, da viúva e do órfão”. Aqui, o Santo Natal nos mostra a plenitude de seu valor, que conduz a recuperar o sentido e o desejo da relação com Deus na sua essencialidade, que ao mesmo tempo faz desabrochar a essência das relações sociais e ilumina a aspiração humana do bem viver.

No final da celebração, os participantes saudaram-se com os melhores desejos de Santo Natal e muitos fizeram um breve momento de parada diante do Presépio, que a cada ano é ornamentado em modo original no fundo da nave esquerda, a poucos metros da porta principal da Igreja.

Texto: Caterina Foppa Pedretti
Foto: Marco Gavasso
Trad.: Fr. Ivo Müller, OFM
Fonte: http://it.custodia.org/



  

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Ramadã em Jerusalém: Jejum, oração e esperança

Depois de tantas horas de jejum se deve recuperar a falta de açúcar e comer algo de substancioso... É daí que nasce, explica o vendedor de Belém, a tradição do “qatayelf”, que é um doce típico do Ramadã, uma massa de farinha e água, recheado de nozes, açúcar e queijo branco doce, que deve ser consumado, naturalmente, somente depois que o pôr-do-sol de cada dia decretar o fim do jejum. Tal jejum é observado religiosamente em Jerusalém pela maioria da população muçulmana. 


Mohammed A. F. Hourani (Autoridade Nacional Palestina) 
“Nós, muçulmanos da Terra Santa, vivemos o jejum como algo que vem de Deus, como está escrito no Alcorão, onde se lê: “Oh vós que credes! Vos é prescrito o jejum, como foi prescrito àqueles que foram antes de nós, na esperança que possais tornar-se tementes a Deus”. 

Um ramadã todo particular está acontecendo neste ano para os muçulmanos palestinos, que estão com os olhos voltados para o próprio futuro, pois no mês de setembro, com o pedido às Nações Unidas do reconhecimento do Estado Palestino, poderá se ter conseqüências importantes para além dos próprios territórios... 

O período é marcado por momento de oração, pelas longas filas no check-point dos muçulmanos que vivem nos territórios e que desejam ir a Jerusalém até a mesquita Al Aqsa (que reúne, em média, na sexta-feira do Ramadã, cerca de 200 mil fiéis), pelo clima festivo e brilhante da Porta de Damasco e das ruas da cidade velha que, à noite, depois de uma certa hora, se animam de gente e de famílias inteiras... Imagens típicas, entre Belém e Jerusalém, deste mês sagrado para os fiéis do Islã, que já está, no entanto, chegando ao fim. 

E justamente por ocasião do final do Ramadã, o Pontifício Conselho para o Diálogo Interreligioso enviou a todos os muçulmanos uma mensagem de felicitações indicando que os cristãos e muçulmanos são chamados a promover a dimensão espiritual do homem como uma realidade de primária importância, afrontando os desafios do materialismo e do secularismo”. “Cabe a nós, prossegue a mensagem assinada pelo Cardeal Tauran, fazer com que as novas gerações descubram que há o bem e o mal, que a consciência é um santuário para ser respeitado, que cultivar a dimensão espiritual nos torna mais responsáveis, mais solidários, mais disponíveis para o bem comum. E que é necessário denunciar a todas as formas de fanatismo e de intimidação...” 

“Parece-me que nestas palavras exista também uma mensagem de “perdão”, comenta Nabeel. Esta seria a coisa mais importante. Se podemos viver o perdão e a paz, nos afastamos dos conflitos e podemos esperar um futuro melhor para nós e para os nossos filhos”. 


Tradução e adaptação: Frei Diego Atalino de Melo 
Fonte: 
http://it.custodia.org/default.asp?id=4&id_n=14322

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Juntos para salvar o Criado


Como as religiões podem responder às crises climáticas?

Foi este o tema de uma conferência sobre o desenvolvimento sustentável, acontecida em Jerusalém nos últimos dias. Os relatores foram diversos líderes religiosos: o rabino David Rosen, Diretor Internacional para assuntos inter-religiosos da Comissão Hebraica Americana; Zuheika Haj Salah, Vice-Ministro para assuntos religiosos para as autoridades palestinas e membro do Conselho das Instituições religiosas da Terra Santa, e Monsenhor William Shomali, bispo auxiliar de Jerusalém para a Igreja Latina.

O fórum foi organizado pela iniciativa do Centro Inter-religioso para o desenvolvimento sustentável. Objetivo: estudar os meios de colaboração diante dos desafios das mudanças climáticas, tendo em vista a importância da questão que interpela todas as religiões, chamando-as a comunicarem-se entre si e a propor pontos para influenciar a política e as determinantes decisões. 

“Respeitar a criação é respeitar o Criador”, foi esta a posição comum expressa de modo similar por todos os relatores. "A criação é um dom que deve ser tratado com atenção, e do qual nós devemos nos enamorar”, acrescentou o Bispo Mons. Shomali, referindo-se ao Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. Além disso, sublinhou também a relação entre a proteção da natureza e a paz, citando as palavras de Bento XVI: “Se queres construir a paz, cuide do criado”.

Monsenhor Shomali também destacou outras questões de extrema atualidade na Terra Santa. Dentre elas: a dificílima situação ecológica de Gaza, que tem um sistema de drenagem deficiente, o que dela um lugar de águas costeiras muito poluídas. 

Durante o encontro se discutiu também a Declaração sobre as mudanças climáticas, recentemente assinada pelo Conselho das Instituições Religiosas da Terra Santa que reuniu hebreus, cristãos e muçulmanos.

O objetivo da declaração é de criar um efeito multiplicador de ações sobre as mudanças climáticas, aproveitando a autoridade moral dos líderes religiosos. “As mudanças climáticas representam um desafio global e é urgente uma intervenção – se lê na declaração. Reconhecemos as raízes espirituais desta crise e a importância de uma resposta religiosa.

Convidamos, por isso, todos os nossos fiéis para que considerem o planeta e seus recursos como um dom de Deus e reduzam as próprias emissões de gás, e exortamos os líderes políticos para que atuem com medidas severas para evitar danos piores ao clima”


Tradução: Frei Diego Atalino de Melo, OFM

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Jovens da Terra Santa em Madri

12 de agosto de 2011

Tudo está pronto, se parte... destino: Madri!

Eis os jovens da Terra Santa que participarão da XXVI Jornada Mundial da Juventude. Serão um total 550 jovens, provenientes das dioceses dos três países da Terra Santa (Jordânia, Israel e Palestina), pertencentes a todos os ritos católicos (sobretudo do rito latino, mas também do rito greco-católico e maronita), inclusive uns 20 jovens da comunidade católica de expressão judaica. Um novo encontro com Bento XVI, depois da sua inesquecível visita, aqui, em 2009.

É a primeira vez que nossos jovens de Ramala participam deste encontro. Estamos estusiasmados, pois conheceremos gente nova. Sobretudo veremos o Papa. Pedimos a Deus que nos abençoe em nossa viagem, pedindo-Lhe que possamos levar aos demais jovens a mensagem da Palestina e da Terra Santa. Foram meses de espera e encontros, com a participação de um guia da Jornada Mundial da Paz em língua árabe. Também é em árabe o hino da Jornada Mundial. Com eles, está também o bipos Marcuzzo, responsável pela organização para a Terra Santa, que destacamos a sua significativa presença em Madri com estes jovens cristãos.

Sua Excelência, o bispo GIACINTO MARCUZZO, Vigário Patriarcal para Israel - Diocese de Jerusalém: em primeiro lugar, porque são jovens da Terra de Jesus, da Terra, a terra da primeira Igreja de Jerusalém, da Terra dos primeiros jovens que seguiram Jesus. Segundo, pelo que eles representam na atualidade, uma terra que está buscando a justiça, a paz, num contexto muito difícil, onde o jovem está muito envolvido. Vão levar o seu testemunho de jovens que anseiam a paz e a justiça e, ao mesmo tempo, vão pedir explicações e ânimo e, sem sabe também, soluções para seus problemas.  

Saídas separadas para os jovens árabes israelenses (reúnem-se em Haifa na paróquia Latina) e para os jovens palestinos dos Territórios que partirão da Jordânia – e que se reunirão aqui em Jericó, na paróquia do Bom Pastor. Um pouco de ansiedade (com esperança de que tudo vai dar certo ao passar a fronteira), uma oração antes da partida e a bênção do pároco franciscano. Entusiasmo e emoção, particularmente, para a mais jovem do grupo, que este ano, todos (árabes israelenses e árabes dos Territórios), debaixo da mesma e única bandeira, a da Terra Santa, definida para a ocasião como “bandeira de Jerusalém”.

Segundo o bispo GIACINTO MARCUZZO, iremos com a bandeira de Jerusalém para evitar questões políticas (porque temos varias bandeiras), para demonstrar a unidade deste grupo de jovens, a unidade da diocese, a unidade da Terra Santa. Porém, 1997, em Paris, nossos jovens não tinham medo de se identificarem, como eram, inclusive os pertencentes a este ou aquele país, porque estábamos num momento de serenidade, de Oslo, na busca do novo Oriente Médio e isto a gente imediatamente nos jovens… Jovens chamados a ser, segundo o tema desta Jornada, "thabituna fil-iman", firmes na fé… Aquilo que mais interessa ao Santo Padre: a necessidade de ter certezas e tratar de evitar o relativismo, que mata o ser humano moderno… Se necesitamos de certezas, que o ponto insistente do Santo Padre, isto é válido também para nós, aqui: com frequência se diz que estes problemas são da Europa – é verdade – no entanto, aqui onde não temos um verdadeiro ateismo, estas certezas as temos… porém, também aqui necesitamos que os jovens recuperem algumas certezas que perderam e diría, sobretudo em Israel, onde há uma atmosfera em que o jovem se sente perdido e não é orientado, se lhe faltam pontos seguros de referência.

"Enquanto jovens da Terra Santa – nos diz Mughannam – gostaríamos de levar a Madri a alegria da Encarnação e da Ressurreição, que aconteceram aqui, para todo o mundo… mas desta vez, queremos enriquecer este encontró… para trazer de lá um pouco de luz a nosso país, maior fé e maior entusiasmo que também nos ajude a permanecer aqui, nesta terra".

Tradução: Frei Ivo Müller, OFM

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Monte Tabor: Festa da Transfiguração


Uma atmosfera de grande e sincera alegria envolveu o Monte Tabor por ocasião da Solenidade da Transfiguração do Senhor. O cenário emocionante e evocativo desta singular localidade da Galiléia, que está aproximadamente a cerca de 600 metros sobre o nível do mar e que oferece uma esplêndida vista sobre toda a planície serviu como espécie de moldura para a belíssima celebração solene que aconteceu na basílica franciscana.

A santa missa, presidida pelo Custódio Frei Pierbattista Pizzaballa, foi celebrada no altar mór e concelebrada pelo guardião do convento do Monte Tabor, Frei Mario Hadchiti. Além disso, inúmeros frades da família franciscana da Terra Santa e sacerdotes de outras comunidades religiosas puderam dividir a alegria desta festa.

Um clima de recolhimento e de profunda participação uniu as tantas pessoas que estavam no Tabor na ocasião, dentre elas muitas cristãos de língua árabe das comunidades vizinhas da Galiléia. Também haviam diversos religiosos, pequenos grupos de peregrinos e outros cristãos da Terra Santa, vindos de várias partes de Israel, mas também de pequenas regiões palestinas de Belém, Beit, Jala e Beit Sahur.

Após a missa houve a tradicional procissão animada com muitos cantos religiosos árabes.
A transfiguração é um evento histórico, um episódio da vida de Jesus que, antes de mais nada, é uma manifestação da essencial disposição divina para a comunhão. Deus, de fato, mostra repetidamente o Seu rosto amigo de homem justo: em particular, Moisés é o amigo ao qual Deus concede de lhe falar “face a face, como um homem fala com outro” (Ex 33,11) e o profeta Elias, aqui chamado a representar todos os profetas, é considerado pela tradição cristã o máximo expoente, com Moisés e São paulo, da grande mística.

São, portanto, chamados a serem testemunhas do evento três dos amigos mais caros de Jesus, ou seja, os apóstolos Pedro, Tiago e João, simples homens da Galiléia que inexperadamente se tornaram protagonistas da mais grande de todas as histórias. Logo após esse acontecimento,  depois de terem contemplado o rosto de Jesus transfigurado e reluzente, eles serão companheiros de Cristo na vigília noturna do Getsêmani e verão aquele mesmo rosto transfigurado pelo sofrimento na hora mais escura que dá início à Paixão. E nesse mistério se esconde um dos desafios mais grandes para o homem: continuar a contemplar a glória e a grandeza de Deus no drama mortificante da cruz.

Assim, ressalta Pizzaballa: “Sobre o Tabor Jesus nos resitituiu a dignidade dos filhos de Deus do tempo da criação, pois o homem foi criado na luz. O Tabor é a antecipação daquilo que todos nós seremos, ou já somos, com a participação na ressurreição de Jesus”. A transfiguração nos convida a recompor de modo original a dimensão subjetiva real e também ideal que está presente em cada homem, a amar a atualidade da pessoa, com as suas misérias e as suas pobrezas, à luz do seu “verdadeiro senso humano”, daquele núcleo escondido do bem que a alma guarda como testemunho do ideal, como adesão à Verdade. O rosto do outro, portanto, observa Emmanuel Lévinas, na sua expressividade, nudez e fragilidade, porta em si um “sinal do infinito”, pois “a dimensão do divino se abre a partir do rosto humano e a sua manifestação consiste no solicitar-nos através da sua miséria no rosto do estrangeiro, da viúva e do órfão”. E o olhar de Jesus não descuida nada, não exclui nada, não se afasta do mundo, mas vê o mundo na luz de Deus, isto é, “transfigura” no encontro com cada criatura, de modo que seja tudo Nele”.

A transfiguração é, portanto, a festa da Verdade do humano, da sua grandeza na sua miséria, da sua irrevogável vocação para a vida perfeita na glória de Deus.


Texto de Caterina Foppa Pedretti
Tradução e adaptação: Frei Diego Atalino de Melo

domingo, 7 de agosto de 2011

Primeiro dia da Caminhada Franciscana na Terra Santa

Quinta-feira, 04 de agosto

Este é o primeiro dia da Caminhada Franciscana (Marcha Franciscana) e nós, frades, religiosas e muitos jovens israelenses e dos territórios palestinos, partimos com alegría, deixando para trás nossos trabalhos, nossas preocupações e nossas famílias para nos reunirmos e começar este camino com São Francisco, buscando a fonte da vida, que é também o lema de nossa caminhada. Alguns jóvens palestinos tiveram dificuldades para conseguir a permissão para sair de seus territórios. Para outros, esta foi a primeira viagem para a Galiléia, que durou quase quatro horas.

Quando chegamos na aldeia de
Deir Hanna, todo o povo, com seu pároco local, nos acolheram com muita hospitalidade e entusiasmo. Então, começamos a cantar, a dançar e aprender novas canções. Às cinco e meia, celebramos a primeira missa deste nosso itinerário de fé. No final da missa, Frei Badi’a com pároco deram a bênção aos Taus, que nos foram entregues. Depois disso, nos distribuímos em grupos, com muitos jovens de diferentes idades, onde cada grupo se reuniu à parte, para que seus membros pudessem se conhecer. Mais tarde, o povo nos ofereceu um delicioso jantar, farto e gostoso.

Às nove da noite, voltamos a nos reunir na igreja para celebrar uma vigilia, sob a orientação de Frei
Raffaele. Coroamos aquele momento cantando e desfrutando juntos, nos saudando e nos despedindo até o dia seguinte, com uma oração de boa noite.

Assim, fomos descansar para recuperar as forças para a longa caminhada do dia seguinte!


Fonte: http://www.custodia.org/ (Tradução: Frei Ivo Müller, OFM)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A "casa da Amizade" de Santa Marta, Maria e Lázaro

 Nos tempos de Jesus, como hoje, Betânia era um pequeno vilarejo pouco distante de Jerusalém, situado à parte do Monte das Oliveiras, ao longo da estrada que desce em direção a Jericó. Um vilarejo imóvel, quase tocado pelo deserto, como existem ainda tantos na região da Palestina.

Até mesmo aqui, neste lugar privado de algum atrativo aparente, fora reservado um grande tesouro que Jesus amava e cuja recordação chegou até nós. Se encontrava a casa de Marta, Maria e Lázaro, “a casa da amizade”, como definiu Frei Marcelo Cichinelli na homilia da Santa Missa solene celebrada na igreja franciscana construída pelo arquiteto Antonio Barluzzi.

Ao final das celebrações, depois de um simples momento de convívio, houve a tradicional procissão que, embelezada pelas leituras de trechos do Evangelho, cantos e orações, prosseguiu até o Monte das Oliveiras, com paradas na capela da Ascenção do Senhor e na Igreja do Pai-Nosso.

Tal celebração é particularmente querida pela comunidade franciscana, pois foram os próprios frades a introduzir por primeiro, em 1262, a festa de Santa Marta, exatamente 8 dias depois da Festa de Santa Maria Madalena, por muito tempo erroneamente identificada com Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro. Mas é uma festa próxima ao coração de todos, um evento que faz memória de uma experiência que cada homem aspira e da qual nem mesmo Deus quis se privar na sua vivência terrena, ou seja, a amizade.

Na humilde casa de Betânia, distante do clamor dos eventos, o “Jesus peregrino” que não possuia nada, que não tinha nem mesmo “onde repousar a cabeça” (Mt 8,20), foi acolhido como amigo, encontrou a solicitude de Marta que queria doar tudo e o escutar silencioso e absorto de Maria, que procurava com todo o seu ser a Verdade, sentindo experimentar, ao lado de Jesus, as coisas últimas, o limiar daquele monólogo que a qualquer pessoa conduz ao Absoluto.

 Neste contexto a propensão para a vida ativa de Marta e aquela para a vida contemplativa de Maria somente aparentemente se contrapõem. Na realidade, estas duas atitudes se compenetram e se harmonizam em um único modelo, pois, observa Jacques Maritain, sobre a estrada em direção à perfeição do amor “a ação é superabundância da contemplação”. O próprio São Francisco queria que os frades aprendessem a fazer uma síntese da vida ativa e contemplativa, resolvendo a polaridade, como na casa de Betânia, por meio da educação para a sobriedade de vida. A amizade de Marta, Maria e Lázaro com Jesus é, de fato, essencial não somente porque remete para a dimensão sobrenatural que lhe é própria, mas também porque atinge a essência dos sujeitos que participam, tornando-os disponíveis para as buscas espirituais e afetivas. Quem procura o essencial não pode deixar de voltar para a sobriedade, porque o essencial é por natureza despido de frescuras desnecessárias, mas é ordenado, comedido, empenhativo; é o encontro do humano, o selo e pacto de intimidade e de mútua responsabilidade estreita com Deus.


”Jesus amava muito Marta, sua irmã e Lázaro” (Jo 11,5). É “o amor louco” de Deus pelas suas criaturas, um amor assim tão perfeito que é ao mesmo tempo “pessoal” e “universal”, uma amizade assim tão pura que se torna absoluta com-paixão. Jesus experimenta, na família de Betânia, o “amor grande” que dá confiança no mundo e que acaba com o absurdo da solidão e que vem paradoxalmente dar uma esperança definitiva para a morte de Lázaro, para consolar para sempre o lamento das suas irmãs diante do sepulcro.

Uma tarefa assim tão humana e tão grande acontece em uma perdida casa em Betânia. Como são verdadeiras as palavras de Archibald J. Cronin, que no seu romance Le chiavi del Regno disse: “Não penseis que o Paraíso esteja no céu, pois está na palma da vossa mão, está em todo lugar, está, não importa onde”.

Testo di Caterina Foppa PedrettiTradução e adaptação: Frei Diego Atalino de Melo
Fonte: http://it.custodia.org//?id=4&id_n=13241

Anunciada descoberta da tumba do Apóstolo Felipe

Em Pamukkale, antiga Hierápolis (Turquia), onde o apóstolo faleceu


CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 28 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Os arqueólogos asseguram que se trata da tumba do apóstolo Felipe, um dos 12 discípulos que acompanharam Jesus.
A descoberta aconteceu em Pamukkale, antiga Hierápolis, em Anatólia Ocidental (Turquia), cidade em que Felipe morreu, depois de ter pregado na Grécia e na Ásia Menor.
A descoberta foi realizada pela missão arqueológica italiana empreendida desde 1957, composta hoje por uma equipe internacional, dirigida desde o ano 2000 por Francesco D’Andria, professor da Universidade de Salento.
Um resultado importante na busca da tumba de São Felipe – recorda L'Osservatore Romano –, já tinha sido alcançado em 2008, quando a equipe encontrou a rua que os peregrinos percorriam para chegar ao sepulcro do apóstolo. Agora se chegou a esta nova meta.
“Junto ao Martyrion (edifício de culto octogonal, construído no lugar onde Felipe foi martirizado), encontramos uma basílica do século V de três naves”, explica o diretor da missão.
“Esta igreja foi construída ao redor de um túmulo romano do século I, que evidentemente gozava da máxima consideração, já que mais tarde se decidiu edificar ao seu redor uma basílica. Trata-se de uma tumba em forma de nicho, com uma câmara funerária.”
Colocando em relação esses e muitos outros elementos, “chegamos à certeza de ter encontrado a tumba do apóstolo Felipe, que era meta de peregrinação a este lugar”, afirma D'Andria.
No século IV, Eusebio de Cesareia escreveu que duas estrelas brilhavam na Ásia: João, sepultado em Éfeso, e Felipe, “que descansa em Hierápolis”.
A questão ligada à morte do apóstolo suscita controvérsia. Segundo uma antiga tradição, de fato, ele não teria morrido martirizado. Já os evangelho apócrifos contam que ele teria sofrido martírio sob os romanos.

Fonte: http://www.zenit.org/

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Emaús, Jaffa e Tel Aviv

Fomos em direção de Emaús (Abu Ghosh). Queríamos celebrar a missa no local, mas a reserva não foi confirmada e assim, tivemos que nos deslocar para outro santuário. Mas valeu a pena a mudança de local, pois acabamos visitando mais um santuário, onde celebramos a missa na Igreja de Nossa Senhora da Arca da Aliança ( Kiriat Yearim). Depois, nos dirigimos a Jaffa, onde visitamos o santuário de São Pedro, sobre a memória do local da ressurreição de Tabita. A seguir, almoçamos num restaurante árabe, comendo shauwerma e algumas saladas típicas. Na parte da tarde, tivemos uma visita panorâmica da grande cidade de Tel Aviv. Tínhamos a chance de tomar banho no Mar Mediterrâneo, mas a tentativa foi frustrada, pois os ventos do deserto movimentavam as ondas, a ponto de não conseguirmos entrar na água. Então, voltamos para casa, para arrumarmos as malas para deixar a Terra Santa no dia seguinte. Ficou um gostinho de quero mais!

Cenáculo e visita à Custódia da Terra Santa

No dia de ontem, celebramos a missa no Cenacolino, a 20 metros do Cenáculo verdadeiro, onde fizemos memória do Lava-pés, Última Ceia e Pentecostes. Depois, passamos pela sala do Cenáculo, onde recordamos a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e sobre nós. A seguir, visitamos a Igreja da Dormição de Maria e depois, a Custódia da Terra Santa. Frei Artêmio (Vigário Custodial) nos falou das dificuldades na manutenção dos Lugares Santos, pela falta de moradia, trabalho e condições de um futuro garantido. Sublinhou que se não fosse a Coleta da Terra Santa, feita em nossas províncias e dioceses, eles não teriam como continuar este trabalho. Por outro lado, sem o apoio dos vários povos e nações, estes Lugares seriam fechados ou transformados em museus!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Três grandes religiões num único dia


Hoje, tivemos a graça de perpassar as grandes religiões monoteistas, com presença em Jerusalém. A primeira visita do dia foi no Santo Sepulcro (Cristianismo), onde celebramos a santa missa no Calvário, às 7h00 da manhã. Depois do café, passamos por dentro do quarteirão hebraico, por dentro do Cardo Máximo (Avenida central da cidade velha, do tempo do Império Romano). A seguir, visitamos o Muro das Lamentações (Judaismo), onde estavam celebrando o Bar Mitzvah de alguns adolescentes (12 a 13 anos), com muitas danças e cantarolas. Depois disso, entramos no território do Templo, onde visitamos as lindas Mesquitas de Al Aqsa e de Omar. Na parte da tarde, percorremos Via dolorosa, rezando as Estaçõe da Via Sacra. Na parte da noite, um lindo jantar num restaurante árabe (beduínos), em Belém!

domingo, 10 de julho de 2011

Deserto da Judéia e Mar Morto

Saimos bem cedo e celebramos a missa na  Betânia (Casa de Marta, Maria e Lázaro). Depois, passamos pelo Bom Samaritano e descemos o Vale Kelt, onde fotografamos o Mosteiro de São Jorge de Kosipa (Gruta de Santo Elias, São Joaquim e Sant'Ana). Depois, fotografamos a Árvore de Zaqueu em Jericó. Almoçamos em Qumram, num calor de 41 graus centígrados. Depois, terminamos a nossa peregrinação boiando no mar mais baixo do mundo, à 400 metros abaixo do nível do mar (Mar Morto). Foi um dia emocionante, onde muitos boiaram neste mar e fizeram lindas fotografias!

sábado, 9 de julho de 2011

Monte das Oliveiras e prisão de Jesus

O dia estava bastante quente, com quase quarenta graus. Saímos logo de manhã em direção à Betfagé, que fica no Monte das Oliveiras. Dalí, partimos em peregrinação, acompanhando os passos de Jesus em sua entrada triunfal em Jerusalém (Domingo de Ramos). Ao passar pela parte mais alta do Monte das Oliveiras, fizemos uma parada no local da Ascensão de Jesus e outra no lugar onde Jesus ensinou o Pai Nosso aos seus discípulos e discípulas. Depois, descemos o monte, passando por dentro do cemitério judaico. Celebramos uma linda missa no lugar onde Jesus chorou sobre Jerusalém (Dominus Flevit). Depois de um saboroso almoço na Casa Nova (comida italiana) e um tempinho de descanso, seguimos nossa peregrinação, passando pela Tumba de Nossa Senhora, a Gruta da Traição e a Basílica do Getsêmani. Lá, fizemos uma foto de grupo e visitamos a linda Basílica das Nações. A seguir, ainda sobrou um tempinho para visita a Igreja do Gallicantu (onde Pedro negou Jesus, antes que o galo cantasse três vezes naquela noite derradeira. Ali, nos deparamos com um fervoroso grupo de 70 peregrinos, da Canção Nova, orientados pelo padre Amilton. Foi uma alegria o encontro com brasileiros.
Depois do jantar, fizemos um passeio pelas ruas de Jerusalém nova, para comemorar o final do Shabat (Sábado) dos judeus, com muita gente na rua, curtindo o verão em Israel.

Fotos: Zilene, Dona Alzira, Angela e Frei João Reintert.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Jerusalém a Belém, passando por São João Batista


No dia de hoje, fizemos uma linda peregrinação, partindo logo cedo para Belém. Atravessamos o muro da vergonha, que o muro que divide a Palestina de Israel, com facilidade, como se passássemos de um país a outro. A bandeira do Brasil é muito respeida nestas terras. Celebramos a missa na Gruta do Campo dos Pastores e a seguir, enfrentamos uma fila enorme, quase duas horas, para chegar até a Gruta onde nasceu o Menino Deus. Mas valeu a pena. E na parte da tarde, visitamos também a Gruta do Leite (onde Maria amamentou Jesus), a Casa de Zacarias (local do nascimento de João Batista) e também o lindo Santuário que traz a memória da visita de Maria à sua prima Isabel (Magnificat). À noite, ainda sobrou um tempinho para uma caminhada e um "suco de cevada".

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A travessia do Mar de Tiberíades

A nossa peregrinação de hoje foi ao redor do Lago da Galiléia, bem como a sua travessia.
Logo cedo, visitamos o santuário da Multiplicação dos Pães é dos beneditinos. Ali se recordam todas as épocas históricas deste lugar. Nos mosaicos anteriores à época bizantina se pode avistar a inscrição do Nilo, no meio de várias representações de aves e animais bíblicos. No centro da ápice, a representação dos cestos de pão e dos peixes, como memória do Evangelho. O santuário foi construído sobre estes mosaicos pré bizantinos, bizantinos, depois igreja cruzada.
A seguir, nos dirigimos ao monte das Bem-aventuranças. A linda paisagem e a panorâmica desta colina nos inspira a meditar sobre o Sermão da Montanha. A tradição oral foi transmitida à história como sendo este o lugar onde Jesus proferira aquele maravilhoso discurso. Segundo o diário da peregrina Etéria (Egeria) o lugar verdadeiro estava localizado a uns 500 metros desta Igreja, perto do lago, onde foram encontradas ruínas de um antigo mosteiro do século IV. O santuário atual foi construído em 1938 por uma associação italiana dedicada às missões, no terreno da Custódia da Terra Santa. É coordenado por um grupo de Irmãs. Ali, rezamos a missa, com uma linda reflexão de Frei Jhônatha.
Depois da missa, nos dirigimos ao sítio arqueológico de Cafarnaum. Cafarnaum é uma cidade em ruínas. O lugar é muito importante porque em evoca em nossa memória os fatos bíblicos da casa de Pedro, onde Jesus estivera muitas vezes. Até o século passado era um lugar abandonado, com montes de pedras sobre o terreno. Os franciscanos adquiriram o terreno e começaram as escavações, sob a coordenação de Fr. Virgílio Corbo. Encontraram restos de uma sinagoga contemporânea de Jesus, onde fora edificada uma outra, posteriormente. As pedras da entrada do sítio, à direita, são desta sinagoga, com a estrela de Davi e a Arca da aliança, esculpidas sobre as mesmas. Nas ruínas da sinagoga se pode localizar o matroneu, na parte de trás, onde poderia ser também uma sala da catequese sinagogal. Atrás desta, passava o Cardo Maximum da cidade romana. Do lado norte, pedras de moinhos de farinha e azeite. Como são tantas, a hipótese levantada é que poderia ser um lugar de venda destes moinhos, escavados na pedra basáltica, típica da região. Depois, no lado oeste, mosaicos e uma pedra da estrada romana, provavelmente da Via Maris, que indicava a quilometragem. Na parte sul, os restos das casas e, a Casa de Pedro, onde Jesus visitava e fazia os milagres, como exemplo, a cura da sogra de Pedro. A Igreja atual está construída sobre os restos desta casa, que se transformou em Domus Ecclesia, no primeiro século, em forma octogonal. Depois, veio a época bizantina e a cruzada por cima. A igreja atual é do ano 1986. Muitos peregrinos apelidam esta Igreja de Disco voador.
Já eram 12h00, quando entramos num barco, onde fomos recepcionados com o hasteamento da bandeira e o Hino Nacional Brasileiro. O Mar da Galiléia é formado pelas águas das três nascentes do Rio Jordão. Está situado a 210 m abaixo do nível do mar. Tem 21 Km de comprimento por 11 Km de largura. Daqui, é recolhida a maior parte da água que é distribuída a todo o Estado, por exemplo, à distância de 180 Km (Jerusalém) e 450 Km (Eilat). Os peixes se multiplicam em abundância, favorecendo a vida dos pescadores desta região. Este lago foi santificado por Jesus. Sabemos, dos Evangelhos, que este lago foi cenário onde: Jesus caminhou sobre as águas, acalmou a tempestade, onde aconteceu a pesca milagrosa, onde Jesus apareceu naquela noite aos discípulos… Todas as palavras e discursos são pouco diante da beleza e maravilhas que sobre este lago se pode meditar ou contemplar! E na outra margem, almoçamos o gostoso peixe de São Pedro, no Kibutz En Ged. Os Kibutz (Kibutzin) começaram em 1909, no sul deste lago, com ideologias marxistas e cristãs, pelos judeus russos. Os seus membros vivem a vida em comum, muito semelhante ao nosso modo de viver. Para entrar, somente judeu, que tenha vivido um ano numa família de judeus, e que passe pelos critérios do regulamento do Kibutz. Têm vinte dias de férias ao ano, para visitar sua pátria, ou familiares. As crianças vivem em forma de orfanato, educadas por pedagogos devidamente preparados neste modo de viver. Normalmente, são a-religiosos. Mas quando se reúnem em dez pessoas, podem formar uma comunidade sinagogal. Quanto ao trabalho, se dedicam na sua maior parte à agricultura e agropecuária. A alta produção de frutas, com a tecnologia ultra moderna de Israel é consumida dentro do país (turismo, restaurantes, hotéis, consumo comum), mas também é exportada. Também se dedicam na rede hoteleira e de restaurantes. Formam um grande capital, com o enriquecimento do Kibutz, e o restante vai ao governo. Os seus membros, como voluntários, não recebem salários, mas vivem bem com todo o conforto favorecido dentro desta organização. Depois de uma visita teleguiada dentro do Kibutz, contornamos o lago de ônibus, até o Santuário de Tabga. Tabga é um lugar de linda natureza, com sete fontes de água salgada. Estas fontes já aparecem mencionadas no diário da peregrina Etéria, no quarto século. Toda a água destas fontes é desviada por um canal que contorna o lago. É a estância de férias dos frades da Custódia. O santuário atual, em memória do primado de Pedro (Mensa Christi), foi construído pelos franciscanos no ano de 1968 sobre as ruínas bizantinas. Na margem do lago, se pode avistar algumas pedras, que representam as pedras onde Jesus pisou, ao sair do lago, segundo a peregrina Etéria. E no final da tarde, fizemos a renovação de nossas promessas batismais no Rio Jordão, disputando o espaço com os gregos ortodoxos e mais um grande grupo da Canção Nova.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Peregrinos em Nazaré e Monte Tabor

Saimos logo cedo do Hotel, às beiras do Mar de Tiberíades, para visitar Nazaré e seus entornos. Nazaré era uma cidadezinha, insignificante, no tempo de Jesus, conforme afirma o evangelista Lucas. No meio das montanhas da baixa Galiléia, a 157 Km de Jerusalém, esta cidade tornou-se famosa pela presença da família de Jesus. Hoje a sua população soma cerca de 60.000 habitantes, incluindo a cidade alta (Nazaré Illit). Aqui convivem pacificamente as três grandes religiões monoteistas desta terra. Os judeus vivem na parte alta (Illit), os árabes (muçulmanos e cristãos) povoam o vale. Vivem do comércio e do serviço aos peregrinos e turistas. (inserir foto Gruta Anunciação).
A Gruta da Anunciação era difícil de ser explicada, porque a arqueologia não era evidente sobre os fatos que aqui aconteceram. Em 1950, o arqueólogo Fr. Belarmino Bagatti, com uma expedição do Instituto Bíblico Franciscano de Jerusalém, nas escavações encontrou restos de cerâmica (lâmpadas de óleo…), que hoje se encontram no museu da basílica. Também encontrou o quarto onde Maria recebeu a mensagem do Anjo Gabriel (hoje: gruta). Foram encontradas várias inscrições em grafite nas pedras das paredes, dentre as quais a famosa escrita: Xaire Maria. Assim, se pôde reconstituir o mosaico das várias etapas da história, a partir da residência de Maria, que era uma sinagoga dos parentes de Jesus. Destes parentes, houve os cinco primeiros bispos da Palestina. Depois, construiu-se a basílica bizantina, a cruzada, a anterior, e a atual. A basílica atual foi construída nos anos 60 deste século. Na parte superior da basílica podemos apreciar lindas decorações, feitas em azulejos, das várias aparições de Maria Santíssima em todo o mundo.
A Igreja de São José foi construída sobre a marcenaria de S. José. Na cripta, podem ser observados restos de batistérios em sete degraus, que confirmam a tradição sobre a visita e veneração deste lugar pelos primeiros judeu-cristãos da época, que aqui eram batizados.

A Fonte da Virgem é uma fonte natural de água que se encontra no mosteiro grego-ortodoxo. Segundo os apócrifos, a virgem recebeu ali o primeiro anúncio do anjo Gabriel, e, amedrontada, correu para sua casa, onde se completou o diálogo sobre o projeto de Deus. Conta a história que desta legenda surgiu a Igreja de S. Gabriel, com referências nos diários de peregrinos já no século XII. Este lugar pertence aos gregos ortodoxos desde 1787.
Caná da GaliléiaCaná da Galiléia (Kefr Kanna) é uma cidade que cresceu muito nos últimos anos, sobretudo pela paz que reina nesta cidade, entre cristãos e muçulmanos. A cidade contém cerca de 8.000 habitantes, dos quais 2.000 são cristãos. Na soma geral de cristãos em Israel e Palestina, é uma das maiores cidades “cristãs” na Terra Santa. Nesta cidade, segundo a tradição, se realizaram as bodas, com a presença de Cristo, seus discípulos e Maria (Jo 2). A cidade também é a pátria do profeta Jonas e de Natanael. De Natanael restou apenas uma igreja dedicada à sua memória, que é propriedade dos franciscanos. A atual Igreja franciscana das bodas foi construída em 1879 sobre a igreja dos bizantinos, mais tarde dos cruzados. Foi restaurada e na cripta, se podem ver restos de vasos de cerâmica, mas não são autênticos. Naquela época eram usadas tinas de pedra. As tinas de pedra eram para que a água fosse purificada, em vez de vasos de argila.
Em Caná, fizemos uma linda celebração de renovação das promessas matrimoniais, onde cada casal do grupo recordou aquele  momento bonita de sua vida e o renovou até que a morte os separe. O casal Marta e Fábio (Curitiba), celebraram 35 anos de matrimônio.


O Monte Tabor é um ponto estratégico para avistar o inimigo. O lugar sempre foi sede de fortalezas edificadas sobre este monte, localizado a 588 m do nível do mar. As várias fases da história e da arqueologia nos demonstram que o lugar, do tempo dos judeus, sempre foi habitado. Afirma o Antigo Testamento que aqui Débora venceu os inimigos de Israel. Depois, vieram os bizantinos e construíram um mosteiro. Mais tarde, beneditinos, cruzados e franciscanos continuaram a história do monte, bem como a memória do episódio da transfiguração de Cristo. Este monte foi doado aos franciscanos em 1631. Foi cenário de várias disputas diplomáticas com o governo de Israel, mas mesmo sendo patrimônio ecológico, a história sempre deu razão aos frades, e a parte circundada por muros continua dos frades. A basílica atual foi construída pelo arquiteto Barluzzi, com arquitetura da Síria, no ano 1924. A Casa Nuova é freqüentada pelos peregrinos de todo o mundo, que aqui pernoitam, ou simplesmente permanecem algumas horas para meditar a frase do Evangelho: “Como é bom estarmos aqui…”! 
Momento marcante, foram os depoimentos na hora da reflexão a partir da experiência de transfiguração. Alguns começaram a chorar de emoção, a ponto de contagiar o grupo num "choro coletivo". As grandes experiências vividas neste Monte marcarão para sempre a vida do grupo! 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Vamos juntos a Jerusalém: um pouco de geografia da Terra Santa

1. Limites

Muitos definem a Terra Santa como terra do Quinto Evangelho, porque ela é testemunho vivo do que restou da história, envolvendo o Antigo e o Novo Testamento. Este país é uma pequena porção de terra, menor do que o Estado do Sergipe. São apenas 20.700 km. Está situado na parte baixa do mediterrâneo, entre os continentes da África e a Ásia. Faz divisa com o Líbano (norte), com a Síria (nordeste), com a Jordânia (leste) e com a península do Sinai – Egito (sul). Na bíblia, vem denominado como o país que se estende de Dan a Bersheva (1Sam 3,20). De Dan até Bersheva são apenas 240 km. De largura (Mar Morto a Tel Aviv) são apenas 100 km. De norte a sul, cerca de 500 km.


2. Topografia

A topografia da Terra Santa é muito acidentada, de região à região. Na planície mediterrânea está localizada a área mais fértil do país. Exemplos: planície de Sarón e planície de Esdrelón. A parte central é montanhosa, com cerca de 1000 metros de altura. Exemplos: Hebron (1.020 m) ao sul, e o Monte Méron (1.208 m) ao norte. O que é típico no país, sobretudo no sul, são os desertos, tais como o Neguev, Judá e a planície de Arabá (perto de Jericó). O Mar Morto é o mar mais exótico do mundo, está a 400 m abaixo do nível do mar.

3. Divisão

São quatro regiões em destaque: Neguev, Judeia, Samaria e Galiléia. Os confins da Palestina podem ser identificados na maioria dos mapas ou guias da Terra Santa. Hoje, com a “independência” da Palestina, esta incorpora a Jerusalém oriental (leste), Jericó, parte da Samaria e a faixa de Gaza (Mediterrâneo).

4. Agricultura

A terra que corre leite e mel não foi dada de mão beijada ao povo de Deus pelo Criador. Se Israel hoje é um exemplo de agricultura, foi graças à inteligência aplicada aos desertos, com a irrigação e fertirrigação. Foram anos de pesquisa, na tecnologia da gota, para que o deserto pudesse florescer. Com água e técnica, a terra produz. No deserto do Neguev, por exemplo, foram escavados poços artesianos com mais 500 m de profundidade. A água que irriga uma plantinha de amor perfeito em Jerusalém vem do Mar de Tiberíades (Galiléia), numa distância de 200 km. Mais de 10% da população vive nas zonas rurais, da agricultura e da agropecuária. Vivem em sistema de Moshav (cooperativas), onde cada família faz a terra produzir, graças ao bom funcionamento destas cooperativas (abastecimento, comercialização, serviços sociais). Israel conta com cerca de 450 instalações em forma de cooperativa. Outro tipo de agricultura em destaque é desenvolvido nos Kibutz, onde todos vivem em sistema coletivo. São 265 destes kibutz espalhados em todo o país. Como produção em destaque: trigo, hortaliças (pepino, beringela, etc), frutas (laranja, banana, melancia, melão, pêssego, manga), pistacchio, batata-inglesa… Ligado à agricultura vem a produção de leite. Uma vaca de Israel produz cerca de 60 litros por dia. A ração diária é controlada por computador. Por falta de terreno para pastagens, estas vacas vivem confinadas.

5. População e Religião

            O país conta com cerca de 7 milhões de habitantes, das mais variadas raças, em sua maioria, árabes e hebreus. As cidades de maior população são: Tel Aviv (cerca de 1 milhão), Jerusalém (600 mil), Haifa (250 mil), Bersheva (100 mil).
            As três grandes religiões monoteístas que convivem em Israel são: Judaísmo, Islamismo e Cristianismo.
            1) O Judaísmo, com mais de cinco mil anos de história, vive os seus princípios religiosos a partir da Toráh (Pentateuco). Aceitam apenas o Antigo Testamento. Vivem da tradição rabínica, com três tendências fundamentais: a ortodoxa, com estreita adesão à Toráh, contida na tradição escrita e oral; os mesorati, que aderem à Halaká, com adaptação constante da religião às exigências da vida moderna, e os progressistas, também denominados de reformistas, que defendem o progresso e a liberdade individual, a ponto de o indivíduo poder estabelecer o próprio comportamento religioso. Este terceiro grupo também tem como base a Halaká. Como princípio geral, observam o sábado (Shabát) e rezam na sinagoga.
            2) O Islamismo, que se formou com Maomé no século VII d.C. São denominados muçulmanos, com as suas diversas seitas, tais como exemplo, os chiitas. Alguns são fundamentalistas, outros vivem moderadamente. Todo bom muçulmano deve crer no Deus Alah, em Maomé como único profeta, fazer cinco orações por dia, proclamadas no muezim, dar esmolas aos pobres, fazer jejum durante o mês de Ramadan, e ir ao menos uma vez na vida, em peregrinação, à Meca. Observam a Sexta-feira com o dia de descanso e de orações intensivas nas mesquitas.
            3) O Cristianismo sobrevive no meio dos judeus e muçulmanos. É uma minoria, presente na Terra Santa, sobretudo ao redor dos lugares santos. Dividem os espaços nos vários santuários e escolas, de acordo com os ritos professados. Por isso, quando se fala em cristão, se deve distinguir entre:
            a) Cristãos católicos: são de rito latino e de rito oriental (alexandrino, antioqueno, armênio, caldeu e bizantino). As 21 Igrejas católicas orientais (sui iuris) somam cerca de 15 milhões de fiéis presentes no mundo inteiro, sobretudo no Oriente Médio;    
            b) Cristãos ortodoxos: gregos, armênios, coptos, etíopes, sírios. São cerca de 150 milhões de fiéis.
c) Cristãos protestantes: luteranos e anglicanos. Os novos movimentos religiosos são uma minoria insignificante.
É importante notar que atualmente na Terra Santa, numa população de cerca de sete milhões de habitantes, os cristãos (todos incluídos) representam apenas 1,8% desta população.

Frei Ivo (Comissário)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vamos juntos a Jerusalém: um pouco da História da Terra Santa

As ruínas de Jerusalém, com seus mais de 3000 anos de história, são um testemunho vivo de que as gerações passam, mas as pedras, mesmo não falando, continuam para nos contar a sua história. Diante desta panorâmica, façamos juntos uma retrospectiva histórica, ou seja, uma caminhada ao passado para entender o presente dos lugares santos. A nossa breve abordagem seguirá os seguintes pontos:

1. Da conquista da Terra Prometida ao Império romano

Os israelitas conquistaram a Terra Prometida pelo ano 1200 a.C. Chegaram pela margem ocidental da Jordânia, atravessando o Rio Jordão e conquistando Jericó, cidade habitada por outros povos. Este povo conquistou a terra e fortificou as suas tribos. No ano 1000 a.C., houve a unificação do reinado de Davi, com a sua capital em Jerusalém. Este reino durou até 587 a.C., quando os israelitas foram deportados para a Babilônia, no exílio, pelo rei Nabucodonosor. A cidade foi destruída pelos Babilônicos. Em 538 a.C. os israelitas foram libertados pelos Persas e iniciaram a reconstrução do Templo. Jerusalém passa a ser governada pelos sacerdotes. Em 334 a.C., com a conquista de Alexandre Magno, Jerusalém passa por um processo de helenização. Os gregos permaneceram nesta terra até 63 a.C., com a conquista do Império romano.

2. Do Império Romano à Conquista Turca

Os exércitos de Pompeu invadiram a Terra Santa em 63 a.C. Herodes, o grande, reconstrói o Templo. Nasce Jesus em Belém da Judéia. Em 70 d.C., na revolta dos romanos contra os judeus, os romanos destruíram o Templo. Em 300, com a vinda do Imperador Constantino – o Iluminado, o cristianismo renova as suas forças e passa a ser a religião oficial do Império. Constantino manda construir as grandes basílicas da Natividade (Belém), Santo Sepulcro e Pai Nosso (Monte das Oliveiras). Em 614 os Persas arrasam tudo na tentativa de apagar a memória dos lugares santos. Em 637, com a conquista dos muçulmanos, Jerusalém passa a ser a terceira cidade mais importante do Islamismo, depois de Meca e Medina. Quando os Cruzados conquistaram a Terra Santa 1099, para devolver os lugares santos à humanidade, Jerusalém estava sob o domínio dos Turcos, que permaneceram na Terra Santa até 1291, quando os Mamelucos começaram o seu domínio sobre os lugares santos. Os muros atuais da Cidade Santa foram construídos pelos turcos Otomanos, em 1530.

3. Da Conquista Turca ao Período Franciscano

Não obstante a presença dos turcos na Terra Santa, o começo da era franciscana se deu em 1219 com a vinda de S. Francisco de Assis à  Terra Santa. Depois de visitar Damieta (Egito) e dialogar com o Sultão, Francisco chegou em Acre (norte de Israel) e ali fundou uma pequena comunidade de frades menores. É importante notar que o Bispo da época era Giacomo da Vitry, amigo de Francisco de um encontro em Perúsia, dois anos antes. Fundaram então o convento de S. João do Acre. A presença dos frades na Terra Santa, apesar de precária, continuou até 1333, quando o rei de Nápoles, Roberto d’Angiò e a rainha Sancha di Mallorca compraram o Cenáculo, dos turcos no Monte Sión e presentearam este lugar aos frades menores. Com as bulas papais Gratias agimus e Nuper carissimae, o Papa Clemente VI confiou aos frades menores a custódia dos lugares santos em 1342. Assim, nasce oficialmente a Custódia da Terra Santa. Em 1347, os frades iniciaram a custódia da Basílica da Natividade (Belém), e em 1485 a custódia de S. João Batista (Ein Karem). Em 1523, com a conquista dos Turcos na Palestina, o Cenáculo, como sede da Custódia, foi transformado em mesquita e os frades foram obrigados a abandonar o convento. Em 1551, instalaram-se no Convento de S. Salvador (atual sede custodial). A partir deste ano, começaram a custódia em quase todos os lugares santos, conforme cronologia que segue:
  • 1630: Anunciação (Nazaré);
  • 1631: Monte Tabor;
  • 1641: início das negociações sobre Caná da Galiléia. Conclui-se em 1879;
  • 1661: Jardim do Getsêmani;
  • 1679: Visitação (Ein Karem);
  • 1836: Flagelação;
  • 1867: Emaús;
  • 1880: Betfagé;
  • 1889: Dominus Flevit e Primado de Pedro (Tabga);
  • 1894: Ruínas de Cafarnaum (vide foto acima);
  • 1909: Campo dos Pastores;
  • 1936: Cenacolino (proximidades do Cenáculo, que já era dos frades);
  • 1950: Betânia (todo o complexo).
É importante lembrar que todas estas conquistas, ou compras dos lugares santos só foi possível com a ajuda dos peregrinos de todo o mundo.

4. Do Período Franciscano ao Estado de Israel

Em 1917, durante a Primeira Guerra mundial, os turcos foram rechaçados pelo general Allemby, em Meguido. A Palestina passou ao domínio dos ingleses que em 1948, abandonaram a Palestina. Sob conselho das Nações Unidas, foi criado o Estado de Israel, no dia 18 de julho de 1948. Israel permaneceu com a parte ocidental do Estado, com cerca de um terço do território, e os palestinos, anexados à Jordânia, com a parte oriental do Estado (Cisjordânia).  Em 1967, na Guerra dos Seis dias (Yon Kippur), Israel conquista as colinas de Golán (Síria), o Sinai e a Faixa de Gaza (Egito) e toda a Cisjordânia. O monte Sinai foi devolvido ao Egito em 1979, com um acordo de paz entre Israel e Egito.  No dia 09 de dezembro de 1989 começou a guerra da Entifada, como modo de rebelião dos palestinos contra os israelitas nos territórios ocupados. Esta guerra terminou em1991, no acordo de paz de Madri. Desde 1981, a capital de Israel, era em Tel Aviv, passou a ser Jerusalém.

Frei Ivo (Comissário)