segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Monte Tabor: Festa da Transfiguração


Uma atmosfera de grande e sincera alegria envolveu o Monte Tabor por ocasião da Solenidade da Transfiguração do Senhor. O cenário emocionante e evocativo desta singular localidade da Galiléia, que está aproximadamente a cerca de 600 metros sobre o nível do mar e que oferece uma esplêndida vista sobre toda a planície serviu como espécie de moldura para a belíssima celebração solene que aconteceu na basílica franciscana.

A santa missa, presidida pelo Custódio Frei Pierbattista Pizzaballa, foi celebrada no altar mór e concelebrada pelo guardião do convento do Monte Tabor, Frei Mario Hadchiti. Além disso, inúmeros frades da família franciscana da Terra Santa e sacerdotes de outras comunidades religiosas puderam dividir a alegria desta festa.

Um clima de recolhimento e de profunda participação uniu as tantas pessoas que estavam no Tabor na ocasião, dentre elas muitas cristãos de língua árabe das comunidades vizinhas da Galiléia. Também haviam diversos religiosos, pequenos grupos de peregrinos e outros cristãos da Terra Santa, vindos de várias partes de Israel, mas também de pequenas regiões palestinas de Belém, Beit, Jala e Beit Sahur.

Após a missa houve a tradicional procissão animada com muitos cantos religiosos árabes.
A transfiguração é um evento histórico, um episódio da vida de Jesus que, antes de mais nada, é uma manifestação da essencial disposição divina para a comunhão. Deus, de fato, mostra repetidamente o Seu rosto amigo de homem justo: em particular, Moisés é o amigo ao qual Deus concede de lhe falar “face a face, como um homem fala com outro” (Ex 33,11) e o profeta Elias, aqui chamado a representar todos os profetas, é considerado pela tradição cristã o máximo expoente, com Moisés e São paulo, da grande mística.

São, portanto, chamados a serem testemunhas do evento três dos amigos mais caros de Jesus, ou seja, os apóstolos Pedro, Tiago e João, simples homens da Galiléia que inexperadamente se tornaram protagonistas da mais grande de todas as histórias. Logo após esse acontecimento,  depois de terem contemplado o rosto de Jesus transfigurado e reluzente, eles serão companheiros de Cristo na vigília noturna do Getsêmani e verão aquele mesmo rosto transfigurado pelo sofrimento na hora mais escura que dá início à Paixão. E nesse mistério se esconde um dos desafios mais grandes para o homem: continuar a contemplar a glória e a grandeza de Deus no drama mortificante da cruz.

Assim, ressalta Pizzaballa: “Sobre o Tabor Jesus nos resitituiu a dignidade dos filhos de Deus do tempo da criação, pois o homem foi criado na luz. O Tabor é a antecipação daquilo que todos nós seremos, ou já somos, com a participação na ressurreição de Jesus”. A transfiguração nos convida a recompor de modo original a dimensão subjetiva real e também ideal que está presente em cada homem, a amar a atualidade da pessoa, com as suas misérias e as suas pobrezas, à luz do seu “verdadeiro senso humano”, daquele núcleo escondido do bem que a alma guarda como testemunho do ideal, como adesão à Verdade. O rosto do outro, portanto, observa Emmanuel Lévinas, na sua expressividade, nudez e fragilidade, porta em si um “sinal do infinito”, pois “a dimensão do divino se abre a partir do rosto humano e a sua manifestação consiste no solicitar-nos através da sua miséria no rosto do estrangeiro, da viúva e do órfão”. E o olhar de Jesus não descuida nada, não exclui nada, não se afasta do mundo, mas vê o mundo na luz de Deus, isto é, “transfigura” no encontro com cada criatura, de modo que seja tudo Nele”.

A transfiguração é, portanto, a festa da Verdade do humano, da sua grandeza na sua miséria, da sua irrevogável vocação para a vida perfeita na glória de Deus.


Texto de Caterina Foppa Pedretti
Tradução e adaptação: Frei Diego Atalino de Melo

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