segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A "casa da Amizade" de Santa Marta, Maria e Lázaro

 Nos tempos de Jesus, como hoje, Betânia era um pequeno vilarejo pouco distante de Jerusalém, situado à parte do Monte das Oliveiras, ao longo da estrada que desce em direção a Jericó. Um vilarejo imóvel, quase tocado pelo deserto, como existem ainda tantos na região da Palestina.

Até mesmo aqui, neste lugar privado de algum atrativo aparente, fora reservado um grande tesouro que Jesus amava e cuja recordação chegou até nós. Se encontrava a casa de Marta, Maria e Lázaro, “a casa da amizade”, como definiu Frei Marcelo Cichinelli na homilia da Santa Missa solene celebrada na igreja franciscana construída pelo arquiteto Antonio Barluzzi.

Ao final das celebrações, depois de um simples momento de convívio, houve a tradicional procissão que, embelezada pelas leituras de trechos do Evangelho, cantos e orações, prosseguiu até o Monte das Oliveiras, com paradas na capela da Ascenção do Senhor e na Igreja do Pai-Nosso.

Tal celebração é particularmente querida pela comunidade franciscana, pois foram os próprios frades a introduzir por primeiro, em 1262, a festa de Santa Marta, exatamente 8 dias depois da Festa de Santa Maria Madalena, por muito tempo erroneamente identificada com Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro. Mas é uma festa próxima ao coração de todos, um evento que faz memória de uma experiência que cada homem aspira e da qual nem mesmo Deus quis se privar na sua vivência terrena, ou seja, a amizade.

Na humilde casa de Betânia, distante do clamor dos eventos, o “Jesus peregrino” que não possuia nada, que não tinha nem mesmo “onde repousar a cabeça” (Mt 8,20), foi acolhido como amigo, encontrou a solicitude de Marta que queria doar tudo e o escutar silencioso e absorto de Maria, que procurava com todo o seu ser a Verdade, sentindo experimentar, ao lado de Jesus, as coisas últimas, o limiar daquele monólogo que a qualquer pessoa conduz ao Absoluto.

 Neste contexto a propensão para a vida ativa de Marta e aquela para a vida contemplativa de Maria somente aparentemente se contrapõem. Na realidade, estas duas atitudes se compenetram e se harmonizam em um único modelo, pois, observa Jacques Maritain, sobre a estrada em direção à perfeição do amor “a ação é superabundância da contemplação”. O próprio São Francisco queria que os frades aprendessem a fazer uma síntese da vida ativa e contemplativa, resolvendo a polaridade, como na casa de Betânia, por meio da educação para a sobriedade de vida. A amizade de Marta, Maria e Lázaro com Jesus é, de fato, essencial não somente porque remete para a dimensão sobrenatural que lhe é própria, mas também porque atinge a essência dos sujeitos que participam, tornando-os disponíveis para as buscas espirituais e afetivas. Quem procura o essencial não pode deixar de voltar para a sobriedade, porque o essencial é por natureza despido de frescuras desnecessárias, mas é ordenado, comedido, empenhativo; é o encontro do humano, o selo e pacto de intimidade e de mútua responsabilidade estreita com Deus.


”Jesus amava muito Marta, sua irmã e Lázaro” (Jo 11,5). É “o amor louco” de Deus pelas suas criaturas, um amor assim tão perfeito que é ao mesmo tempo “pessoal” e “universal”, uma amizade assim tão pura que se torna absoluta com-paixão. Jesus experimenta, na família de Betânia, o “amor grande” que dá confiança no mundo e que acaba com o absurdo da solidão e que vem paradoxalmente dar uma esperança definitiva para a morte de Lázaro, para consolar para sempre o lamento das suas irmãs diante do sepulcro.

Uma tarefa assim tão humana e tão grande acontece em uma perdida casa em Betânia. Como são verdadeiras as palavras de Archibald J. Cronin, que no seu romance Le chiavi del Regno disse: “Não penseis que o Paraíso esteja no céu, pois está na palma da vossa mão, está em todo lugar, está, não importa onde”.

Testo di Caterina Foppa PedrettiTradução e adaptação: Frei Diego Atalino de Melo
Fonte: http://it.custodia.org//?id=4&id_n=13241

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