Nos dias 16 a 30 de julho p.p., 25 frades franciscanos da CFMB (Conferência dos Frades Menores do Brasil) caminharam pelos Lugares Santos, no Projeto Reviver o Dom da Vocação. Dentre os vários locais visitados e experiências realizadas, destaca-se o encontro do grupo com o Custódia da Terra Santa, Frei Pierbattista Pizzaballa, que aconteceu no dia 26, no Convento São Salvador (Cúria Custodial). Após a apresentação inicial, ouvimos a mensagem do Custódio, que discorreu longamente sobre a presença da Igreja Católica na Palestina, conforme o resumo que segue:
- Em Israel, não há problema econômico. A maioria da população é da classe média, tendo trabalho e condições de bem viver e administrar a sua vida aqui nestas terras. Os cristãos que aqui vivem, têm os seus direitos sociais preservados, com um bom sistema de saúde, água, telefone, moradia, desde que estejam sob a tutela do Estado de Israel. O principal problema acontece, quando as portas se fecham a eles, pelo fato de sua adscrição religiosa não corresponder ao Judaísmo;
- O cristianismo nestas terras está fadado a desaparecer. O problema já começa com a própria natalidade, ou seja, o gradativo aumento de filhos dos judeus e dos muçulmanos e a diminuição dos filhos de famílias cristãs (1 a 2 por família);
- O matrimônio acontece somente dentro da religião. Não tem respaldo do Estado. O mesmo acontece com a sepultura, que é registrada somente na religião de adscrição da pessoa. Daí, justifica-se a classificação entre cemitérios judeus, cemitérios muçulmanos e cemitérios cristãos;
- O secularismo está entrando também em Israel e na Palestina. Por incrível que pareça, quanto mais estudados, mais seculares, mais itinerantes, porque descobrem novas possibilidades econômicas, políticas e religiosas;
- O grande desafio do momento é manter os cristãos unidos, em comunidade. Daí, a importância das escolas e das comunidades reunidas ao redor do mistério celebrativo;
- O muro da vergonha causou separação e divisões. É uma ferida, que divide e cria obstáculos. Devido aos rigorosos controles em suas portas, não é possível entrar e sair de Jerusalém (motivos de trabalho e outros). São mais de 40% dos cristãos, que perderam o seu trabalho por causa do muro. A posição da Custódia é veementemente contrária ao muro;
- A comunidade cristã é bastante instruída. Por outro lado, isso facilita a emigração;
- A Igreja encontra-se em dificuldade de diálogo, porque dentro do próprio cristianismo local existem divisões e disputas;
- Estamos aqui como cristãos e testemunhamos através da nossa convivência pacífica diante das duas grandes religiões;
- Os frades são poucos diante da demanda de serviços nos lugares santos. No momento, são 18 casas (santuários, comunidades) que têm apenas um frade aos seus cuidados. Diante da nossa fragilidade, aceitamos ajuda externa. No momento, destacam-se o Mundo X (Monte Tabor) e a Comunidade Shalôm (Nazaré). São novas formas de solidariedade aos excluídos do sistema e novas formas de reavivar a nossa presença, com a ajuda externa. Também contamos com uma presença significativa de sacerdotes diocesanos, especialmente no Santo Sepulcro. Contudo, preservamos o que é próprio da nossa parte (sacristia e atendimento aos peregrinos);
- Diante das necessidades que temos, aceitamos ajuda das Províncias e outras entidades, sobretudo para prestar um serviço nos santuários. Pode-se vir por um período curto (um ano) ou longo, de acordo com as condições de cada oferta de frades a serviço da Terra Santa. Necessariamente, não precisa começar pelo Santo Sepulcro, que é sempre muito difícil a quem chega aqui;
- A Custódia não é uma entidade, como as demais da Ordem. É, por excelência, um lugar de missão da Ordem, de acordo com o nosso carisma fundacional.
Que estes desafios levantados pelo Custódia possam recordar em nós o desejo de sempre ajudarmos a manutenção dos Lugares Santos, seja através da Coleta da Sexta-feira Santa, seja pelas outras iniciativas promovidas em cada Comissariado da Terra Santa.
Frei Ivo Müller, OFMComissário da Terra Santa
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