terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Festa do Batismo do Senhor no rio Jordão
Jericó, 8 de janeiro de 2012
Reaberto no ano passado pelas autoridades israelenses, o lugar ao longo das margens do Rio Jordão onde, desde o século V, se comemora o Batismo de Jesus, tornou a ser meta de muitos peregrinos, que agora podem visitar livremente este lugar, até os confins entre Israel e Jordânia. Aqui, na região do Deserto da Judéia, onde se estende a planície de Jericó, pouco distante da estrada para Tell es-Sultan, que hospeda a antiga Jericó e que conduz ao mosteiro greco-ortodoxo da Quarentena, as diversas confissões cristãs podem novamente celebrar as funções por ocasião da Epifania, que contempla também a liturgia do Batismo do Senhor. Também a comunidade franciscana da Custódia da Terra Santa, que por muito tempo comemorou o Batismo de Jesus na última quinta-feira do mês de outubro, como aconteceu até o ano passado, pôde finalmente organizar a tradicional peregrinação na data do dia 8 de janeiro, primeiro domingo que segue à Epifania, colocando-se de acordo com a linha do calendário litúrgico da Igreja Católica.
A comunidade franciscana, junto com o Custódio da Terra Santa, Frei Pierbattista Pizzaballa, participou com grande entusiasmo deste importante compromisso, onde participaram também muitíssimos cristãos locais, provenientes não somente das zonas israelitas e palestinas de Jerusalém, Jericó e Belém, mas também da Judéia e de outras regiões distantes. A este numeroso grupo se uniram também muitos peregrinos vindos da Jordânia para esta especial ocasião. A procissão, que partiu do convento do Bom Pastor, percorreu uma parte do deserto com cantos e orações, confluindo depois com as suas centenas de participantes, com a capela e com o altar situado a poucos passos das margens do Jordão. Deste lugar, descendendo uma breve escada, se chega ao espaço até o rio, onde, entre as palmas, foi preparado por ocasião um pequeno altar e ao redor dele foram colocadas algumas cadeiras para permitir às pessoas que assistissem à celebração da Santa Missa. Muitos, porém, não encontrando lugar na zona inferior, ao redor do altar, seguiram a celebração parados sobre a rampa de escadas, ao longo do balaustre do espaço superior.
A santa Missa, celebrada na presença das autoridades civis locais, foi presidida pelo padre Custódio, ladeado pelo Cardeal Giovanni Coppa, Núncio Apostólico emérito da República Tcheca, e por muitos confrades e outros sacerdotes concelebrantes. Durante a Santa Missa se desenvolveu também a cerimônia do batismo de quatro crianças da paróquia local, que tiveram um especial privilégio de receber este fundamental sacramento através da água do Rio Jordão. Do mesmo modo, no final da celebração eucarística, muitos quiseram aproximar-se do Jordão e banhar-se nas suas águas, derramando-se simbolicamente um pouco de água sobre a cabeça, recordando o gesto penitencial realizado tantas vezes neste lugar por São João Batista que Jesus mesmo, no início do Seu ministério público, aceitou receber (Mt 3, 13-17).
A peregrinação prosseguiu com a visita ao Mosteiro Greco-ortodoxo construído sobre o Monte da Quarentena, nome que remonta à Idade Média e está ligado à recordação, que aqui se conserva desde o século IV, dos quarenta dias transcorridos por Jesus no deserto e das suas tentações que, ao final deste longo retiro, Jesus teve que enfrentar em um grande confronto com o demônio (Mt 4,1-11). O belíssimo mosteiro, escavado na rocha, justamente sobre os montes que fazem fundo de Tell es-Sultan e que domina desde o nordeste a planície de Jericó, foi edificado até o final do século XIX pelos monges ortodoxos no entorno das grutas em que viviam os anacoretas do deserto que habitaram no lugar até o século V. Percorrido o caminho de grandes degraus que conduz ao mosteiro, o grupo, juntamente com os frades franciscanos, chegaram até o alto e pararam sobre o limiar do edifício para um breve momento de oração.
Acolhidos pelos monges Greco-ortodoxos que vivem neste lugar remoto, os peregrinos puderam apreciar a porta do mosteiro e imergir, por um breve tempo, na atmosfera deste sugestivo lugar. Cada um teve a possibilidade de visitar a igreja, correspondente a uma antiga gruta, e também o pequeno santuário ao qual se pode chegar subindo alguns degraus. Aqui, sobre o muro ocidental, há um nicho escavado na rocha onde se encontra uma pedra, marcada com uma cruz, que indica o lugar tradicional da primeira tentação de Jesus. Realmente esplêndido o panorama que se goza desta posição.
Jesus se apresenta no batismo de João colocando-se na fila com os pecadores, como se também ele fosse um pecador. Ele se faz próximo ao homem em tudo, aceita tudo por amor da humanidade e por obediência ao Pai e, por força desta sua magnitude e deste amor perfeito, o Pai O revela como o Filho predileto, o verdadeiro educador que deve ser escutado, o Bom Pastor a ser seguido. Escreve o Papa Bento XVI: “Jesus é aquele que “se abaixou” para fazer-se um de nós. Aquele que se fez homem e aceitou humilhar-se até a morte de cruz (Fil 2,7). O batismo de Jesus se coloca nesta lógica da humildade e da solidariedade: é o gesto daquele que quer fazer-se em tudo um de nós e se coloca realmente na fila com os pecadores; Ele, que é sem pecado, se deixa tratar como pecador (2Cor 5,21). [...] É o “servo de Deus” do qual falou o profeta Isaías (42,1). A sua humildade é ditada pelo querer estabelecer uma comunhão plena com a humanidade, pelo desejo de realizar uma verdade solidariedade com o homem e com a sua condição. O gesto de Jesus antecipa a cruz, a aceitação da morte pelos pecados do homem. Este ato de abaixamento com o qual Jesus quer conformar-se totalmente ao desígnio de amor do Pai e conformar-se conosco, manifesta a plena sintonia de vontade e de intenção que existe entre as três pessoas da Santíssima Trindade. Para tal ato de amor, o Espírito de Deus se manifesta e vem como uma pomba sobre Ele, e naquele momento o amor que une Jesus ao Pai é testemunhado a todos que assistem ao Batismo por uma voz do alto que todos ouvem. O Pai manifesta abertamente aos homens, a nós, a comunhão profunda que o liga ao Filho: a voz que ressoa do alto e atesta Jesus é obediente em tudo ao Pai e esta obediência é expressão do amor que os une entre eles. Por isso, o Pai coloca o seu agrado em Jesus, porque reconhece no agir do Filho o desejo de seguir em tudo à sua vontade: “Este é o Filho meu, o amado: nele coloco todo o meu agrado” (Mt 3,17). Esta palavra do Pai alude também, antecipadamente, à vitória da ressurreição e nos diz que devemos viver no agrado do Pai, comportando-se como Jesus”.
Texto de Caterina Foppa Pedretti
Foto de Alice Caputo
Fonte: http://pt.custodia.org/default.asp?id=2048&id_n=19009
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