terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Missa da Noite de Natal na Gruta de Belém


“Nós somos sortudos. Podemos celebrar os mistérios de nossa salvação aqui, na gruta onde Jesus nasceu, na manjedoura onde o Menino Jesus esteve deitado, no mesmo lugar onde esses eventos aconteceram. Deixemo-nos levar vantagem completa dessa oportunidade, rezando intensamente pela paz, especialmente na Terra Santa e em Belém”. O pároco de Belém, Padre Marwan Di’des, introduziu a Missa da Noite de Natal na Gruta de Belém com essas palavras.

Talvez nem todos saibam que enquanto a solene Missa da Noite, presidida pelo Patriarca Latino e concelebrado por diversos padres, é celebrado na igreja franciscana de Santa Catarina, na presença das autoridades diplomáticas e com uma liturgia e música solenes, outra Missa da Noite é celebrada ao mesmo tempo na Sagrada Gruta. Existem razões práticas e históricas para isso: a Gruta pode suportar não mais que doze pessoas em seus 30 metros quadrados, por isso a liturgia é celebrada “na parte superior”: somente no final que o Patriarca desce à Gruta carregando a imagem da Criança e então retorna para a grande igreja para a conclusão, depois de primeiro tê-Lo colocado na estrela que marca o local exato do nascimento na manjedoura, onde permanecerá por poucos dias, protegido por um caixa de vidro.

Tudo aconteceu à uma e meia da madrugada; a Gruta pôde permanecer vazia e silenciosa da meia-noite à uma hora e trinta, esperando o Menino, mas nós estamos aqui em Belém, na Terra Santa, onde regras e tradições têm sido aprovadas e bem ajustadas através dos séculos, enquanto tem de ser reivindicadas e declaradas a cada dia com o risco de perdê-las (o famoso Satus Quo dos Santos Lugares); e então naqueles noventa minutos, os “Latinos” puderam celebrar três Missas (duas foram celebradas neste Natal).


Enquanto o Padre Marwan e o vigário paroquial, o Padre Haitham, estavam já prontos na Sacristia, uma dúvida de repente surgiu: pode-se cantar com acompanhamento de violão na Gruta? O Status Quo não vai até esses detalhes e então a melhor decisão tem de ser tomada sabiamente e baseada na experiência. Isso já aconteceu? Sim, no ano anterior, mas os sacristães não sabiam. Quando isso foi feito, nenhum dos que podia reclamar, ou seja, os gregos e os armênios que são os “co-proprietários da Gruta”, reclamaram, e isto é um ponto a favor. Se o certo é uma Missa cantada, os outros não podem interferir no como é feita, ou seja, nos detalhes litúrgicos do rito alheio. Já isso aconteceu no Santo Sepulcro? Talvez com os neo-catecúmenos, mas na capela interna dos Cruzados. O problema logo se transformou numa questão “interna”: é permitido e oportuno usar violão, especialmente na ausência de órgão? Todo esse raciocínio, em que a liturgia, a lei e a história estão entrelaçados, tiveram de ser feitos e foram feitos em cinquenta segundos, quando a hora já havia chegado e o coro na igreja já havia começado o Glória na Missa da Noite. O Padre Marwan tomou a decisão: tudo bem para os violões. Enquanto ele atravessa a igreja, troca olhares com o Guardião de Belém, Padre Stéphane Milovitch, que é também responsável pelo Status
Quo: “Temos violões, e não há problema, certo?” Padre Stéphane sorri e acena consentindo. Conclusão da questão: todos chegam na Gruta, mas não há violões e o canto é a capella. A Missa é rezada pelo Pároco de Belém e então é completamente em árabe. Todos os cantos, incluindo o Hino de Natal, é em árabe. O Evangelho, cantado com melismas e modalidades de sua cultura musical, é particularmente sugestivo, também porque o Padre Marwan canta muito bem. Sobre o altar da estrela, os gregos colocaram seu grande ícone, na qual não estava à tarde durante a procissão. A Missa foi celebrada na manjedoura, no altar erigido no lugar onde os Magos estiveram em adoração ao Menino Jesus: esse é o único lugar onde os Latinos podem celebrar. Há um clima de grande
devoção e intimidade.


Quando a Missa acabou, os celebrantes e parte da assembleia saíram, enquanto alguns italianos entraram na Gruta com os padres que celebrariam na última meia hora, o vigário paroquial, padre Rami Asakrieh e o Padre Jerzy Kraj, que até o último ano foi o guardião do Convento de Belém. Padre Rami começa a Missa em árabe, mas olhando a assembleia, continua em italiano. A Missa é sem canto, como somente restam meia hora, mas ao fim alguém começa a cantar “Você pode vir das estrelas” enquanto os padres retornam à sacristia. Agora, todos têm de sair, porque a Gruta tem de ser preparada de novo para o momento solene presidido pelo Patriarca Latino Fouad Twal. É
Natal de novo em Belém.

Frei Riccardo Cerani

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/Midnight-Mass-in-the-Grotto-of.html?lang=it

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