sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Custódia concede 68 apartamentos aos cristãos locais

“Na alegria do nascimento, não esquecemos as dores do parto”. O Custódio da Terra Santa pronunciou estas palavras durante o discurso que pronunciou por ocasião do ato de entrega das chaves dos novos apartamentos a 68 famílias cristãs de rito latino de Jerusalém.

Com a esperança de conseguir algum dia estas casas, essas famílias há anos apresentaram todos os papéis da solicitação. Norma esperava há 27 anos poder alojar-se em uma casa da Custódia; Samir, desde o dia do matrimônio, há 14 anos; Hanan, por 6 anos.

A maior parte das familias recebeu a notícia na tarde anterior, até à noite. “À meia-noite e trinta o serviço administrativo nos chamou. Devíamos nos apresentar, os dois, na Custódia para firmar o contrato. Por causa da alegria não dormimos esta noite!”. Todas as histórias são semelhantes, todos os rostos deixam ver o cansaço, mas estão radiantes de felicidade. O padre Custódio esteve às 3 da madrugada recebendo as famílias; o padre Ibrahim, até às 5, ocupou-se das questões burocráticas. “Foi uma noite magnífica”, disse o Custódio, frei Pierbattista Pizzaballa, também ele visivelmente feliz pela notícia, mesmo sem esquecer os outros candidatos que não puderam ter acesso às casas.

Havia cerca de 700 famílias que sonhavam com esses 68 apartamentos de Betfagé. Somente para 68 delas o sonho se converteu em realidade. O restante vive desiludido pelo fato de não ter sido agraciado. Este foi o motivo pelo qual a notícia se difundiu no último momento e durante a noite, para evitar incidentes. “Procuramos ser justos na distribuição, mas sabemos que há gente que ficará descontente. Este projeto imobiliário não é o primeiro nem será o último da Custódia. Esperamos colocar em pé outro complexo em Pisgat Zeev. Além disso, seguimos restaurando casas na Cidade Velha”, explica o Custódio. “Essas casas são o fruto da generosidade dos cristãos de todo o mundo”, prosseguiu o padre Ibrahim Faltas, novo ecônomo da Custódia. “O custo foi de vários milhões de dólares e começou há 20 anos”.

Efetivamente, necessitou-se 15 anos para obter a permissão das autoridades israelenses para construir. Logo, quando iniciaram os trabalhos, começou a segunda Intifada e esta reduziu, ou melhor dito, interrompeu temporariamente o ritmo da construção, cujo arquiteto é um franciscano da Custódia, o padre Alberto Prodomo. Quando finalmente as casas estavam quase terminadas, uma controvérsia técnica com o município de Jerusalém bloqueou não somente o abastecimento de água ao complexo residencial São Francisco como também a conexão do fornecimento por parte da companhia elétrica. Isto custou outros três anos de burocracia administrativa.

Quatro Custódios, outros tantos ecônomos… O padre Dobromir, ecônomo anterior que estava “lutando” com as autoridades para obter essas preciosas permissões, também está aqui hoje. Ele foi quem se encarregou, em junho passado, de fechar todos os acordos com a prefeitura.

Alguns discursos oficiais, todos eles breves pois, apesar de todos esperarem a recepção, em que participariam também o Núncio Apostólico e o Discretório da Custódia, o ponto central de interesse está na obtenção das chaves. Não é a consignação dessas chaves gigantes que se entregam simbolicamente aos novos inquilinos, mas sim as chaves autênticas, as chaves destas casas que vão receber sem tê-las visto antes, nem sequer o terreno.

Uma vintena de pequenos edifícios de três andares com apartamentos que vão das 3 a 6 habitações cada um e que acolherão uma comunidade cristã composta de famílias de todas as idades, inclusive anciãos. Este amplo elenco de idades dos novos inquilinos do complexo residencial reflete a própria vida real.

Gladys fala tremendo ao microfone. Foram muitos os anos que toda sua família passou fazendo sacrifícios para poder chegar a pagar o aluguel, exorbitrante para eles - ainda que normal em Jerusalém, e até baixo – de 800 dólares ao mês. “De agora em diante pagaremos um quarto dessa soma e poderemos começar a fazer projetos para nós e nossos filhos”.

De fato, o objetivo desta ação da Custódia não visa o lucro, mas simplesmente pôr em prática a missão que a história lhe confiou, além das circunstâncias específicas do país. “Trata-se de uma de nossas missões mais difíceis de explicar aos países ocidentais. A Igreja da Terra Santa tem também um papel social. Israel ajuda os judeus, os muçulmanos aos muçulmanos e os cristãos aos cristãos. E a Igreja põe em atenção especial os mais pobres. É por isso que construir edifícios ou facilitar o alojamento aos cristãos locais é uma atividade normal para a Igreja da Terra Santa, e para a Custódia em particular. É uma obra que estamos relizando há 400 anos e é muito importante, sobretudo para aqueles que não têm meios para poder conseguir uma casa por seus próprios esforços. A terra aqui, e sobretudo em Jerusalém, tem um valor político tamabém que faz com que seu preço aumente e os cristãos hoje não podem afrontar essa inflação. Por isso, dispor de um espaço próprio, de uma casa própria é um estímulo para enraizar-se e ficar vivendo nesta terra”.

“Em Jerusalém, há uma enorme carestia de casas, pelo menos a preços acessíveis. A maior parte das casas deste tipo supõe um aluguel de uns mil dólares, enquanto que aqui o aluguel será muito mais moderado – continua o padre Ibrahim. Contudo, não nos esquecemos daqueles nos quais não pudemos contentar desta vez e que ficaram mal, ou inclusive chateados. Temos mais projetos. A Custódia tem já 500 casas na Cidade Velha e mais de 200 fora dos muros. Pretendemos frear realmente a emigração cristã, colocando à disposição
essas casas, mas não é possível satisfazer a todos ao mesmo tempo”.

Norma está feliz. Por causa da idade, tem dificuldades para caminhar e na Cidade Velha isto
representa um grave obstáculo. Mas há uma coisa da Cidade Velha que vai faltar realmente:
O Santo Sepulcro. “Tentarei, entretanto, ir pelo menos duas vezes por semana”. Para os filhos de Hanan, entretanto, não é fácil deixar o bairro de sua infância e seus companheiros. Raymond e sua mulher celebrarão aqui seu quinto aniversário matrimonial, com seus dois filhos, e não podem esconder o grande sorriso que se desenha em seus rostos.

Enfim, chega o momento de entrar para ver a casa. As famílias não podem acreditar no que veem, nem sequer se imaginam dentro delas. A alegria, junto ao cansaço, deixa-lhes sem palavras. “Não sei exatamente quando nos mudaremos – disse Samir ainda incrédulo –, mas o quanto antes”. Os novos e felizes inquilinos dormirão esta noite mais do que na noite anterior? Quem sabe. A emoção está no alto, nas estrelas, e o sonho apenas começou!

Mab


Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos

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