terça-feira, 5 de outubro de 2010

Francisco, o homem do diálogo


Muito me alegra o convite feito pela OFS (Ordem Franciscana Secular), com a autorização dos padres diocesanos desta querida paróquia de Nossa Senhora da Paz, Ipanema. O motivo do júbilo é poder hoje celebrar São Francisco de Assis nesta paróquia, que foi dos Frades Menores, com muita saudade, até 1992.

Poderíamos falar por duas ou três horas contínuas do nosso Santo Fundador, quem sabe abordando outros aspectos de sua vida e experiência encarnada do Evangelho. Contudo, devido à exigüidade do tempo, apraz-me falar de Francisco, como homem do diálogo.

Logo depois de sua conversão, Francisco de Assis resolveu ir a Roma para pedir a aprovação da sua forma de vida. Poderia muito bem ter se encaixado numa estrutura de sua época, estável ou confinada nos limites de uma diocese, como por exemplo, a estrutura dos beneditinos. Porém, chamado por Deus, Francisco quis ir além das fronteiras de Assis. Depois de aprovada a Regra pela Igreja, Francisco decide ir até o Oriente Médio. Na época das Cruzadas, aporta no Egito em 1219 e procura o Sultão Melek-el-Kamel para um diálogo com ele. Trava-se ali um diálogo diferente, ou seja, duas grandes religiões começam a se entender, não pela destruição da espada, nem pela destruição causada pela espada cortante de discursos racionais, na tentativa de convencer o outro abraçar a minha religião. Este diálogo foi o marco zero, que abriu caminho para a Igreja católica. A partir deste momento, os franciscanos se instalaram no Egito e também na Palestina (Israel) e lá vivem ininterruptamente até os dias de hoje. Sempre que surge uma disputa entre as religiões, os franciscanos são chamados para apaziguar os ânimos, pela via da paz. Assim, abre-se o leque de compreensão, de que a religião é boa, desde que aplicada para o bem da humanidade, onde haja tolerância e mútuo respeito pelo sagrado que é cultuado em cada tradição, seja ela cristã católica, cristã ortodoxa, cristã protestante, cristã pentecostal, judaica, muçulmana ou qualquer outra tradição religiosa. Exemplo disso podemos constatar nos dias atuais. Se a Igreja católica quiser organizar um evento ecumênico ou inter-religioso, não convoca as religiões para Roma e sim para Assis, porque lá os franciscanos lhes abrem as portas ao diálogo e à tolerância religiosa.

Os seguidores da espiritualidade franciscana eram, no início, apenas católicos, formando assim a Ordem dos Frades Menores, a Ordem das Clarissas, Ordem Terceira (Ordem Franciscana Secular) e mais tarde, a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, a Ordem dos Frades Menores Conventuais. Contudo, outros também quiseram beber desta fonte inspiradora. Hoje, temos irmãos e irmãs franciscanos católicos, franciscanos ortodoxos, franciscanos luteranos, franciscanos anglicanos e porque não falar, de judeus e muçulmanos simpatizantes da espiritualidade franciscana, que são capazes de se sentarem juntos para refletir e beber desta fonte.

Se Francisco é o homem do diálogo, o que podemos aprender dele? 
1) Aprender a reconhecer dentro de mim o lobo que carrego, amansando este lobo para que ele se torne mais cordeiro e que dialogue com o próximo, pela via da paz, da justiça e da solidariedade;
2) Aprender dele que podemos dialogar com todas as culturas, porque em cada uma, apesar das diferenças, Deus é o mesmo;
3) Aprender a respeitar melhor o outro, como extensão de mim mesmo, como templo de Deus, independente da religião que ele pratique;
4) Aprender a dialogar com a natureza, no respeito das coisas criadas, que devem ser ajardinadas, como expressão da beleza do Criador e poder cantar com Francisco o Cântico das Criaturas;
5)    Aprender que é possível permanecer dentro da Igreja católica, não obstante as diferenças que existem em seus vários movimentos - muitas vezes ortodoxos e fanáticos - na linha da inclusão eclesial.
Frei Ivo Müller, OFM
Comissário

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